A afirmação é do diretor da Agência Nacional de Hidrocarbonetos da Bolívia, Northon Torrez Vargas, que destacou a política de estatização do país como acertada. As reservas da Bolívia atendem hoje completamente as suas demandas internas e externas
O segundo dia de debates do Gas Summit 2015 foi de intensa troca de informações sobre as possibilidades de desenvolvimento do gás na América do Sul. As mudanças na matriz energética, a pressão da volatilidade do petróleo e as características na gestão dos países sul americanos foram os destaques do programa .
Diretor da TNSLatam, Fernando Meiter, abriu o seminário afirmando que existe uma abundante infraestrutura de interconexão entre os países da região, que pode gerar grande otimização para o desenvolvimento do gás. “Além dos benefícios econômicos, essas relações geram um fortalecimento dos subsistemas regionais. Existe uma boa base com os convênios de assistência entre países. Mas é preciso encorajar a confiança entre governos e empresas privadas envolvidas através de mecanismos cooperativos, regulatórios, tributários e aduaneiros”, afirmou.
Meiter identifica na falta de planejamento um dos problemas mais sérios entre os sul americanos e mencionou as várias opções de abastecimento de GNL entre Argentina, Chile, Uruguai, para geração de energia elétrica. “Temos toda a infraestrutura para essas trocas. Podemos fazer inúmeras combinações entre os países”.
Representando Luiz Bertenasco, líder de projeto da ENARSA PDV da Argentina, Meiter falou também sobre a atual situação do setor de gás argentino, lembrando que o país é a segunda maior reserva de hidrocarbonetos não recuperáveis do mundo. “As condições de investimentos são mais atraentes agora, com a Lei 27.007 – nova lei de hidrocarbonetos, que em períodos mais extensos de investimentos”, disse. Na nova lei, a aprovação final dos projetos de investimentos é do governo, que passa a ter a última palavra na gestão de hidrocarbonetos. Com relação à concessão, a lei que antes ditava 25 anos com mais 10 anos prorrogáveis (convencional) e 30 anos (+10 anos) para não convencionais, passou a ser de 25 anos (+10 anos) independente do tipo de exploração.
“Sabemos que as condições políticas são desfavoráveis, mas as condições geológicas são muito promissoras. Precisamos obviamente de um novo governo e de novos ares”, admitiu Meiter. Segundo ele, a nova lei ainda tem algumas questões que geram dúvida e que precisam ser sanadas e o contexto internacional de preços baixos do petróleo tem impacto sobre os projetos não convencionais. “Além disso, existem restrições à movimentação de divisas, o que desestimula investidores internacionais A negociação ainda incerta da dívida externa eleva o risco do país. E ainda há incerteza sobre o contexto político”.
Gás na América do Sul
Para dar uma visão sobre o setor boliviano de gás, o diretor técnico da Agência Nacional de Hidrocarbonetos da Bolívia, Northon Torrez Vargas, participou do encontro. “A situação boliviana, após a estatização da exploração e produção do gás, nos permite hoje atender o mercado interno e a demanda de exportação, basicamente da Argentina e do Brasil”, disse, avisando: “Nos transformamos em exportadores de gás e seremos o centro energético da região”.
Segundo Vargas, a produção boliviana de gás deve crescer. “O campo de Incahuasi nos permitirá esse desenvolvimento. De 2011 a 2014 os investimentos foram de US 4,4 bilhões e, em 2015, 60% dos investimentos da YPFB serão em exploração e produção”, informou. E completou: “Ainda temos prazos para renovar os contratos de fornecimento com Brasil e Argentina, mas com relação aos preços, podemos dizer que a queda no valor do petróleo afeta os valores praticados e estamos estudando como nos afetarão”.
A realidade peruana também foi apresentada no evento pelo vice ministro de Energia do país, Raul Pérez Reyes. “Temos o compromisso de garantir a todos os peruanos o acesso à energia, com especial atenção à população rural. Este processo se dará com o emprego de GNV, com uso de novas tecnologias em eletrificação, otimização de desenhos e energias renováveis”, disse Reyes.
“Queremos consolidar o desenvolvimento das redes de distribuição e contar com a reservas de produção e com meios alternativos de transporte de energia, além de descentralizar a produção de energia e diversificar a matriz energética nacional”, enfatizou o vice ministro.
Entre os grandes projetos em curso no Peru, Reyes mencionou as melhorias na segurança energética e o desenvolvimento do Gasoduto Sur Peruano, com 1134 km de comprimento e que tem a participação da brasileira Odebrecht, sendo uma PPP com área de influência ao sul do país. “Prevemos 65% crescimento nacional da demanda por energia elétrica até 2025 e temos previsão de investimentos totais US$ 44 bilhões para o setor para os próximos 10 anos”, disse.
Sobre a Colômbia, o diretor técnico de Hidrocarbonetos do Ministério de Minas e Energia de Colômbia, Carlos David Beltran Quintero , informou que a meta do ano é incentivar a extensão dos prazos contratuais, o movimento de investimentos e equalização das condições contratuais da exploração offshore. “A previsão é de investimentos de quase US$ 500 milhões”, revelou.
Já Gabriela Rojo Chavez, diretora de regulação econômica de gás natural, da comissão reguladora de energia no México, falou sobre alternativas encontradas pelo México para incentivar a participação das empresas privadas na exploração de petróleo e gás e os efeitos desta nova postura no cenário global. A cadeia de fornecedores também mudou e abre espaço para a participação da iniciativa privada, seja na exploração, na produção, na distribuição e comercialização.
“Queremos que a PEMEX possa se associar a terceiros sem prejuízo de qualquer tipo. Anos anteriores, em 2003, a exploração e produção de gás caíram, embora os investimentos estivessem em alta”.
Com a reforma na política energética mexicana para a exploração e produção de petróleo e gás, espera-se que a produção de gás aumente. “Em uma perspectiva mais pessimista, acreditamos que o incremento possa chegar a 4%; em uma projeção mais otimista, chegaremos a um aumento de 8%, que pode diminuir nossa dependência das importações”.
Demanda
O Gas Summit recebeu também o presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Mauricio Tolmasquim, que fez uma detalhada exposição sobre o setor brasileiro de gás e a projeção da demanda.
Tolmasquim disse que o setor energético cresceu entre 2004 a 2013 pouco mais de 7%, sendo que a demanda de gás natural como matéria prima expandiu 4,9% ao ano e o GNV 1,1%. “A nossa projeção de crescimento de demanda do gás natural deve crescer 3,8%, de 2015 a 2025, puxada essencialmente pela demanda não termelétrica. O gás manterá sua participação na matriz energética em 14%”, disse. Quanto à oferta, o volume deve passar de 39 para 73 milhões de metros cúbicos – no período 2014 – 2024.
O presidente da EPE projetou que a demanda máxima de gás natural terá alta de 47% na até 2024 e a oferta potencial acompanhará a curva de crescimento, chegando a 164 milhões de m³/dia.
Heloise Costa, assessora de diretoria da ANP - Agência Nacional de Petróleo, Gás e Bicombustíveis, também participou do evento. A apresentação da especialista foi sobre a Lei do Gás, considerando as perspectivas de harmonização das regulamentações estaduais e federal e de consolidação do mercado livre de gás no Brasil e alternativas viáveis para o desenvolvimento do setor.
Iniciativa privada
Soluções da iniciativa privada também ganharam espaço no evento. Um case apresentado foi o da Coca-Cola Andina. O gerente da fábrica, Nilson Alegre, e o gerente de projeto da Light Esco, Rui Brilhante, discorreram sobre a experiência no local que teve como resultado o aumento da eficiência no aproveitamento do gás, com aumento também do seu valor agregado.
Já o gerente de desenvolvimento de negócios da Aggreko, Pedro Fusco, mostrou como a incorporação de geradores a gás pode solucionar questões de geração distribuída. “Os geradores a gás são extremamente flexíveis, eficientes e perfeitos para aplicações como geração combinada de energia e calor; instalação de biogás; fornecimento de energia em horários de pico da demanda. Fazendo uma comparação com geradores movidos a diesel, o custo de contratação é 30% inferior com os nossos equipamentos a gás”.
O executivo de negócios em O & G da Imagem ESRI, Alessandro Diniz, dissertou sobre a tecnologia e a operação da distribuição, enfatizando os fluxos de comunicação na busca de eficiência. Ele citou a possibilidade de criar centros de informação para auxiliar os estudos de projetos, por exemplo, com mapeamentos e gestão de inspeção a campo.
O consultor ressaltou que é possível também criar maquetes virtuais das plantas, com simulações importantes de projeções. “A inteligência geográfica é muito relevante para os negócios porque ajuda na tomada de decisões bem embasadas, promove melhorias de desempenho e da qualidade de serviços e aumenta a autonomia dos colaboradores e, fundamentalmente, auxilia na redução de custos”.
Finalizando o segundo dia de Gas Summit, o diretor superintendente da TBG, Ubiratan José Clair, mencionou que afirmação da agência nacional de energia de que o gás natural será o único combustível fóssil crescer nas próximas décadas, mas alertou que “a chamada golden age do gás natural ainda não está definida. Teremos que trabalhar juntos para definir e expressar o real potencial do gás”.
Último dia
Nesta quarta-feira, acontecem as últimas palestras do Gas Summit. Às 9h, “Gás do Pré-Sal” será o tema analisado pela diretora do Departamento de Gás Natural do Ministério de Minas e Energia, Symone Christine de Santana Araújo, e pela especialista de gás da Firjan, Renata van de Haagen. Às 11h, Alexandra Barone, superintendente de Assuntos Regulatórios da Comgás e Alexandre Caldeira, especialista em Regulação da ANP, analisam aspectos regulatórios e de aproveitamento do biogás. Na sequência, às 11h30, Renato Jerusalmi, CEO da BPMB Parnaíba aborda questões do gás on-shore. “Gás Não-Convencional” é o tema da palestra do professor da UFRJ, Edmar Luiz Fagundes de Almeida, ao meio-dia.
Encerrando a programação do Gas Summit Latin America 2015, o diretor da Gás Natural Fenosa, Armando Laudorio, participa da palestra “GNC e as Novas Redes de Distribuição” e, às 15h10, é a vez do GNL ser analisado pela sócia-diretora da empresa de consultoria Prysma E&T, Sylvie D’Apote.
Fonte: http://geofisicabrasil.com