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segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Após maior prejuízo da história, BHP pode ter chegado ao fundo do poço

A BHP Billiton Ltd., maior mineradora do mundo em valor de mercado, registrou o pior prejuízo anual de sua história, abatida pelos preços deprimidos das commodities e US$ 7,7 bilhões em baixas contábeis. A mineradora anglo-australiana divulgou um prejuízo líquido de US$ 6,39 bilhões no ano fiscal encerrado em junho, ante um lucro líquido de US$ 1,91 bilhão no ano anterior. O lucro subjacente, que exclui despesas não recorrentes, caiu 81%, para US$ 1,22 bilhão.
Em 2011, o lucro anual foi maior que US$ 20 bilhões. O prejuízo aprofunda o mau momento do setor global de mineração, que reagiu às incertezas da economia mundial e à queda generalizada nos preços das matérias-primas — desde o cobre até o minério de ferro — fechando minas, demitindo funcionários e cortando os dividendos dos investidores.
Os lucros da BHP também foram afetados por problemas não compartilhados pelas demais empresas do setor: o desastre fatal ocorrido no ano passado em Mariana, MG, com o rompimento de uma barragem de rejeitos da Samarco Mineração, uma joint venture da BHP com a brasileira Vale SA. O enorme total em baixas contábeis no resultado da BHP está quase todo ligado à Samarco (US$ 2,2 bilhões) e a ativos de petróleo na região continental dos Estados Unidos (US$ 4,9 bilhões). A divisão de petróleo da BHP, criada para ajudar a empresa a atravessar os tempos ruins do mercado de metais, registrou prejuízo de US$ 7,72 bilhões depois das baixas contábeis.
A perda anual foi a primeira registrada pelo grupo BHP Billiton todo desde que ele foi criado, em 2001, pela fusão da australiana BHP Ltd. e da britânica Billiton PLC. Antes disso, a BHP só havia registrado um prejuízo anual uma única vez, em 1999, quando os preços das commodities também estavam baixos. “Estamos claramente decepcionados com esse resultado. Entretanto, o desempenho subjacente de nosso negócio [...] permanece e está se fortalecendo”, disse o diretor-presidente, Andrew Mackenzie.
A empresa, que em fevereiro abandonou sua política de elevar ou manter os dividendos estáveis a cada semestre fiscal, reduziu os pagamentos finais em 77%. Ainda assim, a US$ 0,14 por ação, o dividendo ficou bem acima do mínimo de US$ 0,08 exigido pelas regras da BHP, o que ela afirma ser um reflexo da confiança na saúde das suas finanças.
Em vez de sinalizar que uma recuperação nos preços das commodities é iminente, a BHP afirmou que a oferta abundante de petróleo e de metais como o cobre deve persistir. Ela também acredita que a economia da China — o principal consumidor da maioria das commodities produzidas pela BHP, principalmente minério de ferro — vai apenas se estabilizar, em vez de se recuperar.
Em reação ao resultado, a BHP afirmou que mantém sua meta de aumentar a produtividade para gerar economias de US$ 2,2 bilhões no período de dois anos que termina em junho de 2017. Ao mesmo tempo, a empresa pretende avançar com cautela em novos projetos, como um campo petrolífero de águas profundas no Golfo do México, para aumentar a receita.
“Nós estamos começando a finalmente atingir uma margem descente e, portanto, uma forte capacidade de geração de caixa”, disse Mackenzie. A cotação das ações da BHP subiu 0,67% ontem, na bolsa de Londres, impulsionada por previsões de que a empresa poderia dobrar seu fluxo de caixa livre nos próximos 12 meses, se os preços das commodities permanecerem estáveis.
Em 2015, a BHP desmembrou algumas áreas, como manganês e alumina, em uma nova empresa chamada South32 Ltd., com ações negociadas na Austrália, Londres e África do Sul. Mackenzie justificou a reestruturação — uma das maiores tentativas feitas por uma mineradora global na crise atual — como uma forma de elevar o lucro da BHP priorizando apenas os maiores ativos da empresa.
A estratégia ainda não deu resultado. Embora as ações da South32 tenham subido 25% nos últimos 12 meses, as da BHP caíram 20%. Mackenzie insiste que a BHP estaria pior agora se não tivesse sido reestruturada, dizendo que o atual portfólio da empresa está “bem perto do que eu diria ser ideal para a BHP Billiton neste momento”.
O banco suíço Credit Suisse afirma que o ano financeiro de 2016 deve ser o fundo do poço no ciclo de resultados da BHP, apesar da incerteza global gerada por eventos como a desaceleração econômica da China e a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia. Outros analistas dizem que a BHP pode precisar reservar mais dinheiro para fazer frente aos custos do acidente de Mariana.
É verdade que a BHP não é a única que está sofrendo com os mercados de commodities. Em julho, a Anglo American PLC divulgou um prejuízo de US$ 813 milhões no primeiro semestre, provocado por baixas contábeis de US$ 1,2 bilhão em alguns ativos de carvão na Austrália.
A decisão da BHP, porém, de comprar ativos petrolíferos durante a alta dos preços de petróleo e gás está agora agravando os problemas na mineração. A empresa injetou quase US$ 20 bilhões na exploração de formações de xisto nos EUA em 2011, tornando-se um dos principais produtores de petróleo fora do grupo das grandes petrolíferas integradas, como a Exxon Mobil Corp.
A queda dos preços do petróleo tornou a unidade “uma criança problema”, afirmou o Credit Suisse numa nota de pesquisa divulgada em 9 de agosto.
Ainda assim, Mackenzie defendeu a unidade de petróleo pelo que ele chamou de efeito compensador da volatilidade no longo prazo. “Nosso negócio de petróleo é um negócio melhor por estar dentro de um negócio de mineração; nosso negócio de mineração é um negócio melhor por estar ao lado de nosso negócio de petróleo”, disse ele.

Fonte: http://geofisicabrasil.com

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