Na luta contra as mudanças climáticas, as gigantes do petróleo são consideradas grandes vilãs por suas elevadas emissões de carbono. Mas, acredite, até mesmo elas têm algo a ganhar unindo-se aos esforços de combate ao aquecimento global. E não é pouca coisa.
Segundo estudo divulgado pela influente instituição britânica Carbon Tracker, os ativos de produção das sete maiores empresas privadas de petróleo e gás do mundo — ExxonMobil, Shell, BP, Chevron, ConocoPhillips, Eni e Total — poderiam valer US$ 100 bilhões a mais se elas alinhassem seus planos de investimento com o objetivo de manter o aumento da temperatura média do planeta em até 2°C, meta acordada na reunião do clima COP21 em Paris em dezembro e assinada em abril deste ano.
O estudo “Sense & Sensitivity: Maximising Value with a 2˚C" baseia-se em testes de estresses (avaliações para saber como um sistema se comporta sob pressão intensa) combinando cenários de baixa demanda de carbono, do preço do petróleo e da sensibilidade à taxa de desconto para quantificar como a redução da exposição ao alto custo dos projetos de alto carbono pode aumentar o valor do rendimento da produção.
A conclusão: seguir um modelo de crescimento baseado no ‘business as usual’, ou seja, sem levar em conta a descarbonização da economia, só faz sentido do ponto de vista financeiro se os preços do petróleo forem maiores que US$ 120 por barril durante um período de tempo significativo. E a chance disso ocorrer é bem pequena, segundo a pesquia.
O relatório introduz o conceito de Prêmio sobre o Risco de Combustíveis Fósseis (FFRP) para as empresas que assumem que uma alta demanda futura vai levar à elevação do preço petróleo e que, por isso, correm o risco de sancionar projetos de maior risco e menor retorno. Este prêmio representa o maior risco associado a projetos de crescimento de alto custo, em comparação com uma carteira de mais baixo custo que iria satisfazer a demanda em um cenário de 2 °C, destaca o relatório.
O relatório adverte que os projetos que dependem de preços altos para o petróleo são mais arriscados e que quando um "prêmio pelo risco dos combustíveis fósseis” é levado em conta, os preços teriam que alcançar níveis sem precedentes, na faixa de US$ 180 por barril — mais que o dobro que a previsão de longo prazo da OPEP, que é de US$ 80 por barril — para que um projeto ‘business as usual’ seja mais atraente.
Diante destas conclusões, a Carbon Tracker recomenda que as grandes petrolíferas façam previsões conservadoras sobre a demanda futura, lembrando que apenas uma pequena quantidade de excesso de oferta - cerca de 2% - levou à era atual de volatilidade dos preços e US$ 380 bilhões em despesas de capital canceladas ou adiadas pela indústria entre o final de 2014 e o final de 2015.
Bolha de carbono
Num estudo em 2013, o Carbon Tracker alertou que o mundo caminha para uma nova crise a medida que os mercados alocam mais e mais recursos financeiros no desenvolvimento de reservas de combustíveis fósseis que, por serem incompatíveis com a segurança climática, correm risco de não serem usadas.
De acordo com o instituto, a "bolha de carbono" é o resultado de um excesso de valorização pelos mercados globais das reservas de carvão, gás e petróleo detidas por empresas de combustíveis fósseis. No ritmo atual dos investimentos, a próxima década verá mais de US$ 6 trilhões sendo destinados à exploração de novas reservas de fontes emissoras intensivas de gases de efeito estufa.
O relatório destaca que pelo menos dois terços dessas reservas terão de permanecer intactas, ou seja, não poderão ser "queimadas", se o mundo for seguir à risca as metas acordadas internacionalmente de limitar o aumento da temperatura média da Terra em até 2º, a fim de evitar efeitos perigosos das mudanças climáticas.
Fonte: http://exame.abril.com.br/
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