“A nossa situação é extremamente grave”. A afirmação é de Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). Ele foi um dos pesquisadores da Academia Brasileira de Ciências*, que se reuniram ontem (12/02), no Rio de Janeiro, para falar sobre a crise hídrica no país.
O tom do encontro foi de denúncia e crítica. “Em novembro de 2013 já era possível antever isso, sem nenhuma bola de cristal. Nós antevimos que esse problema ia acontecer, sugerimos racionalização do uso, sugerimos aumento tarifário, nada foi feito”, disse Paulo Canedo, chefe do Laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ.
Em dezembro do ano passado, cientistas brasileiros divulgaram o documento “
” , quando fizeram novo alerta sobre o grave problema da falta de água no sudeste do Brasil.
“A governança do Brasil sempre foi ligada a uma abundância de água, e hoje vivemos uma escassez que não vai durar só um verão”, ressaltou José Galizia Tundisi, pesquisador do Instituto Internacional de Ecologia e especialista em recursos hídricos. “Num estado como São Paulo, o problema se agrava ainda mais, porque a economia depende de água – é o maior produtor do mundo de suco de laranja, de ovos, e sua população é do tamanho da Argentina.”
Para os cientistas, 2015 será um ano muito difícil. Eles são unânimes em dizer que, mesmo que chova acima da média histórica – algo que já se mostra praticamente impossível – o país sofrerá com falta de água e energia.
Outra crítica feita foi em relação a falta de transparência dos governos sobre a real gravidade da crise e a demora em tomar decisões importantes como, o incentivo à economia de água e luz. “Faltou transparência e continua faltando. A população não tem a real dimensão da crise e nem está sendo preparada para enfrentá-la. Isso, no mínimo é irresponsável”, afirmou Sandra Azevedo, diretora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho.
Sandra chamou atenção sobre os efeitos que as interrupções no abastecimento de água podem ter sobre a saúde da população. “Qual o controle que temos, por exemplo, sobre a qualidade da água dos carros-pipa ou dos galões, que se tornaram populares? Temos os principais mananciais da região sudeste contaminados com componentes químicos muito tóxicos”, questionou.
Ainda segundo a pesquisadora, a diminuição na pressão da água aumentaria as chances de contaminação externa, já que as cidades brasileiras têm redes antigas com microfissuras nos canos. “Quando a água é aberta novamente, entra nas casas com contaminantes do solo, como esgoto e resíduos químicos”.
O cenário apontado pelos cientistas é que a região sudeste está muito longe de sair da crise. Pelo contrário, ela deve piorar ainda mais. Infelizmente, parece que pouca importância está sendo dada aos contínuos alertas da academia brasileira. “Não aprendemos nada com o ano de 2001, quando a escassez de água levou a “apagões” constantes”, comentou José Marengo, pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). “Esse fenômeno já aconteceu no passado, acontece agora e deve acontecer no futuro”.
Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br
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