Depois de reduzir a produção durante meses, as empresas de petróleo
de xisto dos Estados Unidos afirmam que estão prontas para religar as
máquinas no que será o primeiro grande teste de sua capacidade de reagir
rapidamente a um aumento dos preços do petróleo bruto.
Na semana passada, a EOG Resources Inc. informou que planeja elevar a
produção caso os preços do petróleo se mantenham nos níveis recentes,
enquanto a Occidental Petroleum Corp. aumentou a produção planejada para
o ano. Outros produtores informaram que abrirão as torneiras se o
petróleo de referência nos EUA, o WTI (de West Texas Intermediate),
chegar aos US$ 70 por barril. O WTI fechou em US$ 60,50 por barril
ontem, enquanto o petróleo Brent, referência global, fechou em US$
66,81.
Um aumento na produção americana, somado ao crescimento da produção
de petróleo no Brasil e na Rússia, pode acabar detendo a recuperação dos
preços do petróleo bruto, que já subiram 40% desde março, e até
derrubar as cotações mais tarde no ano, dizem alguns analistas.
"A oferta americana poderia voltar a subir rapidamente em resposta à
recente recuperação nos preços", diz Tom Pugh, economista de commodities
da Capital Economics. "Com base na relação histórica com os preços, a
redução no número de sondas de exploração já parece exagerada e a
atividade deve voltar a crescer nos próximos meses."
Um fator a ser observado é se as empresas que exploram as formações de xisto podem extrair mais petróleo rapidamente.
Esses produtores perfuram rochas ricas em petróleo horizontalmente e
depois as quebram com a injeção de água, areia e químicos para extrair o
petróleo, num processo conhecido como fraturamento hidráulico, ou
"fracking".
O custo para explorar petróleo nesses poços varia muito. Mas os
produtores podem escalonar as despesas, por exemplo, perfurando os poços
em um momento e esperando para extrair o petróleo quando os preços no
mercado atingirem níveis que permitam rentabilidade ou quando os custos
de extração caem.
Por essa razão, as empresas americanas de xisto estão cada vez mais
sendo consideradas como "produtores de guinada", porque, como um grupo,
elas podem elevar a produção quando os preços sobem e reduzi-la quando
os preços caem.
A implicação para os mercados globais de petróleo é que a rápida
reação dos produtores de xisto dos EUA daria ao mundo um certo
contrapeso para as grandes oscilações do mercado em qualquer direção.
Mas essa nova flexibilidade ainda não foi completamente testada em um
grande colapso de preços.
À medida que os preços caíam no ano passado, as empresas de xisto
começaram a interromper a produção das sondas de forma frenética. Vinte e
duas semanas consecutivas de cortes agressivos deixaram o setor com 930
sondas a menos, uma redução de 58% em relação ao pico de 1.609
alcançado em outubro, segundo a Baker Hugues, que monitora a atividade
de perfuração.
Em um relatório, ontem, a Agência Internacional de Energia (IEA, na
sigla em inglês), que tem sede em Paris e analisa a demanda dos grandes
consumidores mundiais de petróleo, previu que o crescimento da produção
de petróleo de xisto dos EUA vai perder 80 mil barris por dia este mês.
Mas, enquanto isso, outros produtores globais, como a Organização dos
Países Exportadores de Petróleo (Opep), não reduziram sua produção e, em
muitos casos, aumentaram a extração. A IEA revisou para cima sua
estimativa de produção para países que não fazem parte da Opep.
Toda essa nova oferta pode pressionar os preços pelo resto do ano.
Pugh, da Capital Economics, prevê um preço de US$ 60 por barril para o
petróleo bruto tipo Brent no fim do ano.
A produção americana cresceu em 1 milhão de barris por dia em cada
ano a partir de 2011, ultrapassando 9 milhões de barris diários em 2014.
Embora esse aumento seja responsável por apenas 5% da oferta global de
petróleo, ele foi suficiente para ajudar a provocar um colapso de preços
em novembro. Mesmo com o aumento da oferta global, a Arábia Saudita e
outros membros da Opep mantiveram as torneiras abertas, em vez de
reduzir a produção para dar sustentação aos preços como fizeram no
passado.
A rápida resposta dos produtores americanos de xisto ajudou a
interromper o declínio nos preços do petróleo quando o tipo Brent caiu
abaixo de US$ 47 por barril em março, ante US$ 115 por barril menos de
um ano atrás. Operadores, investidores e produtores vinham prevendo uma
queda na produção nos próximos meses como resultado da retração.
Mais recentemente, os preços do petróleo se recuperaram ainda mais e o
Brent já está 40% acima da mínima de março. Agora, os operadores e
investidores do mercado mudaram o foco, passando a monitorar com que
rapidez as empresas, incluindo os pequenos produtores de xisto, voltam a
ativar seus poços.
O Goldman Sachs informou que se os preços do petróleo WTI
ultrapassarem o nível de US$ 60 por barril, os produtores americanos vão
aumentar a atividade, impulsionados por retornos melhores graças à
queda de custos com os ganhos de eficiência. Uma desaceleração nos
números de sondas desativadas sugere que os produtores estão cada vez
mais confortáveis com o atual nível de preço, afirma o Goldman. Na
semana passada, 11 sondas tiveram sua produção interrompida, totalizando
668, o menor recuo desde o início de abril, depois da desativação de 24
e 31 sondas nas duas semanas anteriores e depois de fechar quase 100
delas por semana no início do ano.
A agilidade dos produtores de xisto não é um fato incontestável. A
Opep desfrutou da posição de produtor flexível porque os governos de
vários de seus principais membros, especialmente a Arábia Saudita,
investiram bilhões de dólares no desenvolvimento de capacidade extra —
poços que podem ser ativados e desativados rapidamente em caso de uma
crise.
Os produtores de xisto, ao contrário, são normalmente muito menores e
independentes e reagem aos preços — não aos caprichos de seus governos.
Eles também dependem dos recursos de investidores, não de dinheiro
público. Ainda não está claro se a inundação de dinheiro que ajudou a
iniciar e sustentar o boom do xisto também pode ser ligada e desligada
tão rapidamente quanto às sondas de petróleo.
Nos ciclos anteriores do petróleo, as empresas também tiveram
problemas para voltar a produzir depois de desativar seus poços —
questões logísticas, como conseguir o equipamento e atrair os
trabalhadores recém demitidos de volta aos campos de exploração.
A IEA informou ontem que os produtores de xisto dos EUA já aprenderam
a cortar custos. A recente recuperação nos preços "está dando aos
produtores [de xisto] um novo sopro de vida", informou a agência.
"Vários grandes produtores [de xisto] vêm conseguindo grandes reduções
nos custos de produção nas últimas semanas."
Fonte: http://geofisicabrasil.com
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