Quase todos os terremotos são produtos do deslocamento das placas
tectônicas e o que acaba de ocorrer no Nepal não fugiu à regra. A
sismicidade em torno dos Himalaias está inserida em um contexto maior,
envolvendo as placas Africana e Arábica, que junto com a Indiana, também
colidem com a Eurasiana, para formar a faixa sísmica Alpino-Himalaia, a
segunda mais ativa do mundo. Estendendo-se do sul da Europa/norte da
África, até as Filipinas, ela passa por países com históricos de
terremotos fatais como o de Lisboa, em 1755, com magnitude (M) estimada
8.5-9.0, que matou cerca de 40 mil pessoas, ou o recente, em Sichuan,
China, em 2008, com M7.9, que ceifou 70 mil vidas.
Mapa com epicentros do sismos principal (25/04/2015, M7.8) e secundários (aftershocks). As cores simbolizam que todos os eventos tem profundidade rasa (<30km). (Fonte: USGS)
O sismo de 25/04/2015, com M7.8 e a menos de 80 km da capital
Kathmandu, tornou-se o mais novo integrante da listagem. Seus efeitos
devastadores resultaram não apenas da elevada magnitude, como da
profundidade rasa, apenas 10 km e com epicentro muito próximo de duas
cidades populosas e com construções frágeis. Quase instantaneamente, o
sismo liberou uma enorme quantidade de energia, na forma de ondas
sísmicas, que mexeram violentamente com o chão a medida que se
deslocavam em alta velocidade. É como se a natureza, num repente,
descarregasse a energia equivalente a 500 bombas de Hiroshima, ou a
totalidade da produção de dois meses da hidrelétrica de Itaipu. Como
resistir a tudo isto? Somente edificações construídas para suportar
altas acelerações do terreno tendem a ficar de pé. De outra forma, caem
como se de papel fossem.
ShakeMap preparado pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) indica as vibrações do chão na região afetada pelo terremoto, em termos de picos de aceleração, de velocidade e também estima a intensidade sísmica. No caso Kathmandu, um dos locais mais afetados, o pico de aceleração chegou a 75% do valor da gravidade, a velocidade a 86 cm/s e a intensidade atingiu o grau IX. (Fonte: USGS)
Para piorar, o terremoto chacoalhou as encostas íngremes das
montanhas ocasionando escorregamentos de terra e avalanches de neve,
matando pessoas, destruindo e bloqueando acessos para levar socorro a
locais isolados. Se hoje a situação é difícil, amanhã também será, pois a
recuperação de um país pouco desenvolvido é mais custosa, lenta e
totalmente dependente de recursos externos. Por tratar-se de um processo
longo, não é incomum que promessas feitas no calor do desastre não
sejam cumpridas e caiam no esquecimento.
Danos em Kathmandu
Danos diversos observados na capital Kathmandu. (Fonte: Internet)
As edificações antes e depois do terremoto. (Fonte: Internet)
Recentemente, sismólogos franceses chamaram a atenção das autoridades
nepalesas sobre a possibilidade de um forte tremor atingir o país, pois
suas pesquisas mostravam a repetição de sismos fortes na região, a
cada 80 anos, aproximadamente. Não se tratou de previsão sísmica, mas de
um alerta importante que não costuma surtir efeitos em países com
parcos recursos econômicos e com problemas sociais de toda ordem.
Situação parecida aconteceu no Haiti, pouco antes do terremoto de M7
quase aplainar a capital do país e provocar o espantoso número de mais
de 200 mil mortos, em janeiro de 2010.
Como os terremotos não podem ser previstos, resta preparar as cidades
e os seus cidadãos para enfrentá-los. Isso exige conhecimentos
diferenciados e maciços investimentos para planificar as cidades,
reforçar edifícios antigos, construir os novos com códigos antissísmicos
e treinar as pessoas para situações de emergência. Istambul, São
Francisco, Tóquio estão na lista de prováveis candidatas a sofrerem
terremotos fortes em um tempo não tão distante. Espera-se que estejam
preparadas para evitar numerosas vítimas, pois é para isto que se
planeja e se exercita a cultura da prevenção a desastres de qualquer
natureza.
É totalmente certo que as placas tectônicas seguirão em movimento e
os terremotos continuarão acontecendo. Mas não se sabe quando, nem onde e
de que tamanho será o próximo sismo. Não existindo preparação adequada,
outros episódios como o do Nepal prosseguirão chocando o mundo.
Fonte: http://geofisicabrasil.com
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