Quando a Cuadrilla Resources Ltd. abriu um escritório na Polônia em
2009, a empresa tinha motivo para ser otimista: o boom do xisto estava
transformando os EUA no maior produtor de gás natural do mundo. Para as
companhias que estavam correndo para imitar esse sucesso na Europa, a
Polônia parecia ser o novo Texas.
Seis anos depois, a exploradora britânica ainda não perfurou seu
primeiro poço na Polônia - e isso no país mais disposto a permitir o
fraturamento hidráulico na Europa -. As chamadas "super-majors", como a
Exxon Mobil Corp., a Chevron Corp. e a Royal Dutch Shell Plc, fizeram as
malas e seguiram adiante.
"Não é fácil", disse Marek Madeja, diretor de serviços em poços da
Cuadrilla no país. "Os custos de perfurar na Europa são muito, mas muito
mais altos do que nos EUA, e existem muitas regulamentações em cada
passo do caminho".
Apesar do desejo da Europa de reduzir sua dependência do gás russo, a
revolução do xisto acabou sendo um fiasco. Condições geológicas
difíceis, uma oposição ambientalista feroz, regulamentações complicadas e
uma guerra sangrenta na Ucrânia conspiraram para esmagar o entusiasmo
dos investidores e acabar com a paciência deles. O desmoronamento dos
preços do petróleo para menos de US$ 50 o barril em março foi a gota
d'água, porque o custo de grande parte do gás da Europa, inclusive das
importações da Rússia, está atrelado ao petróleo bruto.
"O problema na Europa é que nunca houve uma massa crítica de poços
para que as sinergias e as eficiências de custos se afirmassem", disse
Michael Barron, diretor mundial de energia e recursos naturais da
Eurasia Group em Londres. "Fica claro que aqui nunca vai ocorrer a
revolução que houve nos EUA".
Importações da Rússia
A notícia é particularmente ruim para a Ucrânia, que está desesperada
por reduzir sua dependência das importações de energia da Rússia. Um
conflito sangrento com separatistas apoiados pela Rússia na região de
Donetsk, no leste do país, levou a Shell a abandonar suas operações na
área no fim do ano passado. A Chevron, embora operasse nas províncias
ocidentais, que são mais seguras, seguiu o mesmo caminho pouco depois.
Os produtores menores de petróleo e gás que permaneceram na Europa -
principalmente na Polônia e no Reino Unido - continuam lutando contra a
burocracia, as leis fiscais incompreensíveis e as autoridades locais que
não querem perfurações em seus quintais. A geologia também não ajuda:
muito poucos poços renderam algo semelhante a um fluxo comercialmente
viável.
A Polônia exige que os exploradores forneçam um plano operacional
detalhado de cinco anos antes mesmo de começar a perfuração. Por cada
ajuste feito ao plano, as empresas precisam apresentar um pedido cuja
aprovação pelo governo pode demorar meses, ou até anos, disse Madeja, da
Cuadrilla.
Reino Unido e Dinamarca
No Reino Unido, o fraturamento hidráulico é apoiado pelo governo de
David Cameron, que foi reeleito na semana passada, mas enfrenta uma
forte oposição de comunidades locais que temem que injetar água tratada
quimicamente no solo polua o ambiente e provoque terremotos. Apesar do
apoio do governo, somente cerca de uma dezena de poços estão na carteira
de projetos em preparação.
"A Europa está muito mais densamente povoada, portanto as pessoas
moram muito mais perto da atividade do que nos EUA", disse Barron, da
Eurasia. "Ainda há muitas preocupações da população que precisam ser
superadas".
Existe certo entusiasmo pela exploração de gás de xisto na Dinamarca,
onde a Total SA obteve duas concessões e poderia perfurar neste ano.
Também é possível que a exploração no Reino Unido acelere se os novos
poços no país tiverem viabilidade comercial.
Mas o gás de xisto sempre será uma fonte complementar de oferta na
Europa, onde o gás convencional, seja transportado por gasodutos da
Rússia ou de outros fornecedores, continua sendo a opção mais barata,
segundo Philipp Chladek, analista da Bloomberg Intelligence.
"O fracking como caminho para a independência foi um sonho
que simplesmente não se realizará", disse Chladek. "Eu não diria que o
gás de xisto na Europa está morto, mas é muito mais difícil do que as
pessoas achavam".
Fonte: http://geofisicabrasil.com
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