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quinta-feira, 1 de setembro de 2016

'As pessoas não pensam muito sobre onde pisam', diz geólogo

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"Nos focamos no espaço, sistema solar, mas não sabemos o que há abaixo dos nossos pés", acredita Iain Stewart - Fernando Lemos / Agência O Globo

"Fui ator quando criança, e hoje sou professor de Comunicação em Geociências da Universidade de Plymouth. Já vim a o Brasil alguns anos atrás filmar a pororoca , e vim ao Rio pela primeira vez neste ano. Em 2012, não estava em Londres, então, interrompi minhas férias para vir à Olimpíada no Rio."

Conte algo que não sei.

Se você voltar 120 milhões de anos, o que é pouco para geologia, o Brasil fazia parte da África. Do Pão de Açúcar, provavelmente, era possível ter uma ótima visão da África indo embora. A separação continental trouxe benefícios ao Brasil em termos de biodiversidade e de óleo e gás. A biodiversidade da Amazônia, por exemplo, está ligada ao momento da separação. Foi um momento essencial para o legado ambiental brasileiro. Durante a separação, devia ter muita erupção e terremotos, um processo bem violento. Por causa desse processo geológico, foi formada na costa a camada do pré sal. Nos países do litoral de lá, como Angola e Namíbia, ocorreu a mesma coisa.

Você faz sucesso com programas de TV sobre geologia. O passado como ator ajudou?

A atuação e a Ciência são basicamente a mesma coisa (risos). O professor tem que ser performático, só muda a plateia. A comunicação é muito importante e me ajudou, principalmente, a pensar no que a plateia quer e precisa ouvir. Foi uma ótima preparação e deixa meus programas mais atrativos. As pessoas lembram pouco do conhecimento científico que aprendem na escola, por isso é importante a Ciência estar na mídia de massa. Assim, podemos mudar a maneira da sociedade pensar. A televisão ainda é o maior canal, mas a internet está mudando isso.

E os cientistas estão conseguindo se adaptar?

Não sei se conseguem lidar tão bem. A internet deixa o ambiente mais excitante. É fácil se inserir, mas é difícil usar as ferramentas da melhor forma. Eu, por exemplo, faço vídeos no Youtube que podem ser vistos por milhões de pessoas, há uma facilidade maior. Mas, ao mesmo tempo, temos que competir com vídeos de gatos tocando piano, é desigual.

Você estuda as interações sociais promovidas pela geologia. O que seria isso?

Tento entender como o planeta funciona e como interagimos com ele, desde as sociedades mais antigas até o presente. Há uma conexão cultural de povos com a Terra, que varia de acordo com vários fatores. Em como lidamos com desastres naturais, por exemplo. No Reino Unido, não há grandes desastres, nosso petróleo é basicamente offshore (exploração no mar). Provavelmente, no Brasil é assim também.

E qual é a consequência sobre a interação social nesses casos?

Não há uma conexão cultural muito forte com a Terra. As pessoas acabam não pensando muito sobre onde estamos pisando. Em locais em que existem terremotos, as pessoas são mais conectadas, e podem conhecer mais sobre o subsolo, o que é uma vantagem nos estudos sobre energia. Nos focamos no espaço, sistema solar, mas não sabemos o que há abaixo dos nossos pés, e é de onde muitos dos nossos recursos vêm. Ao saber o que existe no subsolo ficamos numa posição melhor para tomar decisões estratégicas.

A Inglaterra está numa posição melhor após o Brexit?

Nossos campos de petróleo do Norte, que sempre foram nossa fonte principal, estão caindo, então o movimento atual no Reino Unido é mudar a exploração do offshore para onshore, que é com sonda em terra, um processo mais barato. Será uma experiência em que podemos aprender muito e ver se vai dar certo mesmo. No universo acadêmico todos eram contra o Brexit, mas dentro do escopo da geologia não sei se vai alterar tanto.
Fonte: http://geofisicabrasil.com

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