Temos a matriz mais equilibrada entre as grandes nações e muitas vias para expandir nossa geração, com energia hidrelétrica, petróleo e biomassa.
No ano passado, 45,8% da energia usada pelos brasileiros veio de fontes renováveis, como a água corrente e a cana-de-açúcar, e o restante, de fontes não renováveis, principalmente petróleo e gás natural. É a matriz mais equilibrada entre as nações mais populosas ou ricas do planeta. A média mundial de uso de energias renováveis é de 12,7%; essa média cai para 6,2% entre os 30 países-membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que inclui os Estados Unidos e as mais ricas nações do globo.
Outro componente invejável de nossa matriz é que o país, recentemente, equilibrou sua produção e seus gastos de petróleo e continua avançando nessa autonomia. Neste momento, também consegue ampliar de forma significativa o uso de fontes renováveis de energia. Em 2007, pela primeira vez, a cana-de-açúcar ocupou a segunda posição como material mais utilizado para produzir energia (etanol) em nossa matriz, suplantando a água – ou seja, a energia hidrelétrica, gerada pela força dos rios e das águas represadas.Mas, apesar de a água e a cana serem consideradas recursos renováveis e de o governo estar investindo na produção de energia eólica e em outras fontes renováveis, o Ministério de Minas e Energia prevê que a participação das energias renováveis na matriz até 2030 pode até diminuir em vez de aumentar, o que mostra o tamanho de nossos atuais desafi os energéticos.
DESAFIO CRESCENTE
Quando se observa o histórico de energia no Brasil, é de destacar que, não por acaso, o país foi batizado a partir do nome do famoso pau-brasil e que, como numa premonição histórica, esse nome deriva da palavra brasa (alusão à coloração avermelhada da madeira). Somos ricos em recursos renováveis de energia, e, por isso mesmo, a queima de lenha, a opção de energia mais simples e acessível ao ser humano, foi a que mais persistiu no tempo. Ainda recentemente a queima de madeira era um recurso energético importante na matriz brasileira.
Para ter uma idéia dos desafios à frente: o Brasil possui a quarta maior população mundial, mas o consumo energético em 2007 foi de apenas 1,29 tep por habitante ao ano, enquanto a média mundial é de 1,7 tep/hab. ao ano, e a média dos países ricos é de 4,7 tep/hab. Ainda temos de ampliar muito a nossa oferta de energia.
Segundo previsão oficial deste ano, nossa população poderá chegar a 2030 sendo cerca de 40% a mais do que no Censo de 2000. É preciso, portanto, gerar energia para esse crescimento de uso, além de buscar cobrir a defasagem de consumo médio por habitante que nos separa do mundo desenvolvido. No cenário mais provável para o estudo acima, o consumo brasileiro per capita deve subir para 2,33 tep/hab em 2030.
Veja este histórico destacado pelo Ministério de Minas e Energia: “Entre 1940 e 1950, para uma população de cerca de 41 milhões de habitantes, dos quais 69% se oncentravam no meio rural, o consumo brasileiro de energia primária era de apenas 15 milhões de tep. Trinta anos depois, em 1970, para uma população de mais de 93 milhões de habitantes, o consumo de energia primária já se aproximava de 70 milhões de tep, valor 4,7 vezes maior.
Mais 30 anos, em 2000, a população era quase o dobro, ultrapassando 170 milhões de habitantes, e o consumo de energia se elevava a cerca de 190 milhões de tep, ou seja, um crescimento de quase três vezes.”
A EVOLUÇÃO DA MATRIZ
A primeira usina termelétrica para iluminação pública foi inaugurada em 1883, por dom Pedro II. Mas a antiga matriz de energia do Brasil é marcada principalmente pela queima de lenha, que até o início da década de 1940 gerava nada menos que 80% da energia nacional. Nessa época, o país começou a desenvolver sua estrutura para a indústria de base, com a inauguração, em 1942, da Companhia Vale do Rio Doce (para extrair minério de ferro e também o carvão mineral), e, após uma crise de abastecimento elétrico, a criação do sistema Eletrobrás e das primeiras represas hidrelétricas de grande porte, como a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, no Nordeste, em 1945. Na década de 1950 é fundada a Petrobras.
Daí para a frente, aumentar a geração de hidreletricidade tornou-se prioridade, e o governo passou a construir represas grandes e gigantes, como as de Furnas, em Minas Gerais (1965), Itaipu, na fronteira do Paraná com o Paraguai (1982), e Tucuruí, no Pará (1984). Na década de 1970, no período chamado de “milagre econômico”, as cidades do país crescem e a eletricidade passa a ter consumo cada vez maior e mais significativo na matriz energética.
Atualmente, o principal potencial hidráulico do Brasil ainda pouco explorado está na Região Norte, onde os desafios ambientais são os maiores já enfrentados. Um exemplo é a usina de Balbina, no Amazonas, considerada um desastre por ambientalistas. A represa alagou milhares de quilômetros quadrados de floresta, expulsou comunidades e grupos ribeirinhos e afetou as populações de espécies vegetais e animais.A vazão de água, porém, é pequena, a usina gera poucaenergia, mas a emissão de dióxido de carbono (CO2) e de metano (CH4) para a atmosfera, produzidos pela floresta submersa e em decomposição, é dez vezes maior do que a de uma usina termelétrica com a mesma capacidade. O governo, porém, não vê outra via para enfrentar o crescimento do consumo elétrico e encaminha a construção de duas usinas no rio Madeira, Santo Antônio e Girau, em Rondônia. Na bacia dos rios Araguaia e Tocantins, o governo discute a construção de 18 barragens, das quais uma está em andamento, a da usina de Estreito, na divisa do Tocantins e do Maranhão.
Na década de 1990, o governo decidiu ampliar o uso do gás natural, seguindo uma tendência adotada mundialmente. Em 1991 iniciou as discussões com a Bolívia para a construção do gasoduto Brasil-Bolívia. Com 3.150 quilômetros de extensão, é um dos maiores do planeta, entrou em operação por trechos, a partir de 1999, e é o principal marco do aumento do uso de gás natural no país. Seu fornecimento se tornou ainda mais importante após o colapso do abastecimento elétrico em 2001 (o “apagão”). Por causa do nível baixo de água nas represas, o governo federal determinou cotas de consumo de eletricidade e encareceu as tarifas, para reduzir a demanda e indenizar as maiores companhias da área.
A crise do “apagão” serviu para que o governo federal acordasse para a necessidade de maior segurança no sistema e montasse o Programa Prioritário de Termeletricidade. Ele defi niu e iniciou a construção de cerca de 50 usinas termelétricas, movidas a óleo cru, diesel e gás natural, principalmente ao redor das grandes metrópoles. Essas usinas são acionadas, sobretudo, no início da noite, quando há picos de consumo de eletricidade. Neste início de século, o Brasil está diversificando mais suas fontes de energia, para utilizar biomassa na geração de eletricidade e de biodiesel, bem como energia eólica e solar.
ÁLCOOL VERSUS GASOLINA
Pouco depois do primeiro choque de preços do petróleo, em 1973, o governo federal iniciou dois programas ambiciosos de mudanças na matriz de energia: o Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool), que se mostrou estratégico para substituir a gasolina em transportes, e o Programa Nacional do Carvão (Pró-Carvão), para substituir na indústria a queima de óleo combustível pela de carvão mineral. Esses programas visavam a evitar que os preços dos combustíveis fósseis, com fornecimento dependente do Oriente Médio, alimentassem a inflação, além de reduzir as importações.
No Pró-Álcool, o governo promoveu e financiou a construção de usinas de álcool. Durante a década de 1980, cresceu a produção de álcool hidratado, que troca a gasolina diretamente no tanque do veículo, e também a de álcool anidro (puro), adicionado à gasolina para fazê-la render mais em volume, com o benefício de reduzir a emissão de poluentes. A fabricação de automóveis e caminhões movidos a álcool começou em 1979 e chegou ao apogeu nos anos de 1983 a 1988, quando as vendas dos novos veículos a álcool eram mais de 100% superiores às dos veículos a gasolina. Nesse período, o consumo anual de álcool chegou ao ápice de 8 milhões de metros cúbicos ao ano, contra 10 milhões gasolina. No fim da década, houve crise de desabastecimento nos postos, e o governo se viu forçado a importar metanol.
Mas, a partir de 1989, a industrialização e as vendas declinaram. Apesar da alta momentânea nas cotações do petróleo em razão da Guerra do Golfo, em 1991, houve estabilização do preço em patamares baixos durante a década de 1990. Assim, o álcool deixou de ter preço atraente para o bolso do consumidor. Ao mesmo tempo, o açúcar passou a ter preço elevado no mercado externo, tornando mais rentável às usinas utilizar sua cana para produzir açúcar para exportação do que o álcool combustível. No fim da década, o governo terminou por deixar o setor funcionar pelas regras de oferta e procura do mercado.Com isso, o Pró-Álcool acabou morrendo. A produção de veículos a álcool quase acabou, mas não chegou a parar totalmente. Acontece que a estabilização econômica iniciada a partir do Plano Real (1994) provocou aos poucos um crescimento na fabricação e na venda de veículos, com forte impacto no trânsito das grandes cidades e na matriz de energia brasileira. Com a alta no preço do petróleo, nos anos 2000, e o início de produção e vendas de carros com motores flexfuel em 2003, o álcool combustível voltou a ser consumido em grande escala nos postos e ganhou novo peso no setor de transportes.
Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea), as vendas de carros flex, em apenas quatro anos, atingiram 69% do total de veículos comercializados. Elas subiram de 49.264 no primeiro ano para 1.936.853 em 2007, contra 767.446 automóveis a gasolina nesse mesmo ano. Os motores flex podem funcionar com álcool ou gasolina separadamente ou juntos, com qualquer quantidade de mistura. Caso falte um tipo de combustível, o outro pode ser usado, o que dá enorme segurança ao consumidor. O impacto dessa mudança recente foi – e deve continuar assim – grande na matriz energética brasileira.
PARA ALÉM DO ÁLCOOL
Com o crescimento da frota e do consumo de álcool, a demanda pelo combustível fora dos picos de safra – quando há mais oferta de cana – faz aumentar o preço e eleva o índice de infl ação, o que levou o governo federal a voltar a acompanhar o setor. O governo atua por meio de ações do Ministério de Minas e Energia, de financiamentos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da empresa federal Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), entre outras instâncias.
Como o interesse por programas e fontes renováveis de energia é mundial, o setor sucroalcooleiro do Brasil passou a atrair investidores privados de dentro e de fora do país. A Petrobras e grandes fundos de pensão associaram-se a empreendimentos de construção de usinas de álcool. O governo federal, por sua vez, passou a ver o etanol como um produto com potencial exportador em crescimento.
Segundo dados da União dos Produtores de Bioenergia, na safra 2005-2006 havia no Brasil 347 usinas de álcool. Para o período de 2010-2011, espera-se contar com 73 novas usinas, com mais 31 vindo a seguir. É um crescimento de 30% num prazo de meia década: um número muito significativo, se observarmos que todos os números a respeito de crescimento da indústria e da infra-estrutura em qualquer país, em prazos tão pequenos, costumam ser, freqüentemente, abaixo de 5%.
PLANEJAMENTO É ESSENCIAL
Em relação à energia, é preciso sempre planejar com muita antecedência para não comprometer o futuro. Um dos fatores importantes é equilibrar as fontes de energia disponíveis com seu uso crescente, e quanto a isso o Brasil tem dois buracos históricos: o consumo de óleo diesel e o do gás liquefeito de petróleo (GLP), vendido em botijão. Isso ocorre porque o consumo desses dois combustíveis é maior do que o petróleo que extraímos é capaz de produzir, mesmo o país tendo atingido em 2006 a auto-suficiência em petróleo.
Para entender isso, é importante saber que o processo de refino, também conhecido como craqueamento, consiste em aquecer o óleo bruto para produzir seus derivados. Conforme a qualidade do petróleo extraído, mais grosso ou mais fino, e a temperatura escolhida em cada etapa, é possível obter um ou mais produtos.
Não dá para transformar um barril de petróleo inteiro em óleo diesel ou gasolina, por exemplo. E, quando você prioriza certo derivado, e produz uma quantidade maior dele, isso afeta a quantidade dos outros derivados extraídos do refino.
Como mais de 50% de todo o combustível de transporte usado no país é o oleo diesel, principalmente em caminhões e ônibus, a Petrobras prioriza sua produção. Essa estratégia resulta, também, numa produção excedente de gasolina, que a empresa exporta, gerando um saldo que ajuda a pagar as importações. Para cobrir o buraco de GLP, além de importações feitas pela Petrobras, o governo decidiu aumentar a oferta de gás natural, uma estratégia adotada internacionalmente.
AUTO-SUFICIÊNCIA
Como você já deve ter observado, cada nação necessita de determinada quantidade de petróleo diariamente, e, quando consegue produzi-la, diz-se que o país se tornou auto-suficiente em petróleo. O Brasil anunciou oficialmente sua auto-suficiência na produção de petróleo em 21 de abril de 2006, em cerimônia no Rio de Janeiro.
Isso não significa que não importamos mais petróleo ou derivados, pois, como já foi dito, a produção é complexa e envolve vários fatores. Um é que as necessidades de quantidade de cada derivado mudam conforme os segmentos que os usam. E a Petrobras produz e comercializa 80 produtos de petróleo. Se há um crescimento intenso do setor de aviação, será preciso mais querosene para os aviões; mas, se o crescimento for no setor de tecidos ou de petroquímicos, a demanda será por mais nafta, e assim por diante. Se o volume produzido internamente de cada combustível não for suficiente, a Petrobras o importa. O resultado é que a auto-suficiência é medida basicamente pelo aspecto contábil, que aparece na balança comercial do país: se o Brasil importar petróleo, suas exportações na área terão de ser maiores, para não haver déficit.
Outro fator importante é a capacidade de refino, pois, quando o país não tem o número de refinarias necessário para processar o petróleo que extrai, também é preciso exportar e importar. A Petrobras concentra 98% do refi no brasileiro e possui 11 refinarias dentro do país e mais cinco no exterior. O governo planeja construir outras três até 2030, das quais estão defi nidas uma no Nordeste e outra no Rio de Janeiro. Além disso, haverá investimento para ampliar a capacidade de refino das usinas já existentes.
Em junho passado, o petróleo chegou a ser negociado a 147 dólares o barril. Nesse cenário grave, repercutiu mundialmente o anúncio da descoberta de grandes jazidas de petróleo e gás na bacia de Santos. Em 2003, a Petrobras havia confirmado a jazida gigante de gás natural em Santos, batizada de Mexilhão. Em 2007 revelou a megajazida de Tupi, que pode conter cerca de 8 bilhões de barris de petróleo, ou até bem mais.
A jazida de Tupi está localizada em rochas permeáveis abaixo de uma camada de sal de até 2 quilômetros de espessura, sob o leito do oceano Atlântico, numa profundidade total de até 7 mil metros.
Se o volume for confirmado e explorável, vai se somar ao total de reservas atuais, que é de 12 bilhões de barris. Até junho, a Petrobras informava ter perfurado 16 poços nessa jazida, dos quais nove foram testados e revelaram óleo leve e de boa qualidade.
RESUMO: ENERGIA
Definição
Toda energia provém do Sol e é armazenada na natureza. Nosso corpo sobrevive por extrair a energia dos alimentos. Da mesma forma, a sociedade não funciona sem fontes de energia.
FORMAS DE ENERGIA
Energias limpas são as que poluem menos e fazem menos mal ao clima e à saúde humana.
Energias renováveis são as de fontes naturais, como o sol e os ventos, e que a natureza repõe, como a água e a lenha. Energias sustentáveis são aquelas que garantem sua reposição no decorrer do tempo.
Matriz energética
É o conjunto dos recursos de energia de uma sociedade, de uma região ou do mundo, incluindo as formas como eles são usados. Ela abrange as fontes de energia primárias (petróleo, água, carvão mineral, lenha, cana-de-açúcar e seu bagaço etc.), secundárias (gasolina, querosene, óleo diesel, álcool etc.), as tecnologias de geração (mecânica, térmica, nuclear, eólica etc.) e as formas e setores de consumo: eletricidade, combustíveis para transporte, indústria, comércio e residências.
Matriz brasileira
Até 1940, a queima de lenha fornecia 80% da energia. Os recursos priorizados depois foram o carvão mineral e a hidreletricidade (a partir da década de 1940), o petróleo (anos 1950), grandes hidrelétricas e energia nuclear (1960), álcool (anos 1970 e 1980) e gás natural (anos 1990).
Desequilíbrio
Mantido o ritmo econômico atual, o consumo mundial de energia poderá crescer 50% até 2030, com destaque para o de Índia e China. Há o risco de um desequilíbrio entre a oferta e a procura e até desabastecimento, principalmente de petróleo.
Alternativas
É preciso ampliar o uso de energias renováveis, como a da água, a dos ventos e a solar. Nos transportes, podem-se usar álcool e biodiesel, que poluem menos do que o petróleo e são renováveis. No setor elétrico, é possível substituir as usinas térmicas pelas nucleares.
Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br
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