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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Na era do petróleo barato

Uma nova era de reservas de energia abundantes e baratas está redesenhando o panorama geopolítico do mundo, enfraquecendo e potencialmente ameaçando a legitimidade de alguns governos ao mesmo tempo em que aumenta o poder de outros.
Algumas mudanças já são evidentes. O rápido crescimento da produção de petróleo nos EUA permitiu que o país e seus aliados impusessem duras sanções ao Irã sem se preocuparem muito com a perda de importações do país do Oriente Médio. Enquanto isso, a Rússia enfrenta o que o presidente Vladimir Putin chamou de uma queda de preços do seu petróleo possivelmente "catastrófica", já que sua economia está sendo castigada pelas sanções dos EUA e da Europa por seu papel na Ucrânia.
"Uma nova era de preços mais baixos está sendo prenunciada pela revolução do petróleo e gás de folhelho nos EUA", disse Ed Morse, diretor mundial de pesquisa sobre commodities do Citigroup Inc. em Nova York, por e-mail. "Sem dúvida, algumas dessas mudanças geopolíticas serão muito significativas".
Certamente foi o caso há um quarto de século. O desmoronamento dos preços do petróleo na segunda metade da década de 1980 ajudou a abrir as portas para a dissolução da União Soviética ao roubar-lhe a receita de que precisava para sobreviver. O mercado deprimido também pode ter influenciado na decisão do líder iraquiano Saddam Hussein de invadir o seu vizinho e produtor Kuwait em 1990, o que desencadeou a primeira Guerra do Golfo.
Mais uma vez, parece provável que a Rússia sofra as consequências adversas nos mercados de petróleo, junto com o Irã e a Venezuela, ao passo que os EUA e a China serão beneficiados.

Perdedores

Os preços de referência do petróleo em Nova York caíram mais de 30 por cento nos últimos cinco meses, para cerca de US$ 75 por barril, porque a produção de petróleo bruto nos EUA alcançou seu máximo em mais de três décadas, impulsionada pelos campos de folhelho na Dakota do Norte e no Texas. A produção foi de 9,06 milhões de barris diários na primeira semana de novembro, a maior desde pelo menos janeiro de 1983, quando a série de dados semanais da Administração de Informações sobre Energia começou a ser publicada.
A Rússia é a maior perdedora, segundo a Bloomberg Global Poll que consultou investidores internacionais na semana passada. A receita ligada à venda de petróleo e gás natural representa cerca de metade do orçamento do país.
A economia da Rússia se contrairá 1,7 por cento no próximo ano após ter estagnado em 2014, prognostica a consultoria IHS Inc. A empresa projeta que a inflação aumentará de 7,6 por cento para 8,4 por cento, impulsionada pela desvalorização da moeda. O rublo caiu cerca de 30 por cento frente ao dólar dos EUA neste ano.
O Irã sofreu uma queda de aproximadamente 30 por cento da receita obtida com exportações de petróleo, disse o presidente Hassan Rouhani em comentários ao parlamento publicados no dia 29 de outubro no Shana, o site de notícias do Ministério do Petróleo. O país precisa chegar ao preço de US$ 143 por barril neste ano para manter seu orçamento equilibrado, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Vencedores

Uma maior independência energética implica que os EUA estão menos vulneráveis às interrupções na oferta do exterior, disse Robert Hormats, ex-subsecretário do Departamento de Estado dos EUA e atualmente vice-presidente da Kissinger Associates em Nova York. A independência também aumenta a alavancagem do país nas negociações internacionais, seja com o Irã por seu programa nuclear ou com a Rússia por suas intenções na Ucrânia.
A China é outra grande vencedora, pois importa quase 60 por cento do seu petróleo bruto, disse Lin Boqiang, diretor do centro de pesquisa sobre economia de energia da Universidade Xiamen e diretor independente da PetroChina Co.
O desmoronamento dos preços do petróleo também dá ao país alavancagem nas suas negociações com a Rússia. Os dois países assinaram um acordo de US$ 400 bilhões para fornecer gás por 30 anos durante uma cúpula na China em maio e depois aprofundaram seus vínculos de energia neste mês com um acordo preliminar para construir um segundo gasoduto entre eles.
"A China sempre terá uma vantagem para lidar com a Rússia enquanto os preços do petróleo se mantiverem baixos", disse Lin. "A Rússia precisa muito da renda gerada pela energia".

Fonte: http://geofisicabrasil.com

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