O cenário atual – aumento de consumo e de emissões de gases de efeito estufa – pode começar a se alterar com a entrada em vigor, este ano, da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ela direciona recursos públicos para priorizar redução desses resíduos e sua produção, para encontrar soluções para a reutilização ou reciclagem e, por fim, pensar em seu tratamento, quando os rejeitos podem ser encaminhados a um destino adequado em um aterro sanitário, gerando menos GEE
O homem moderno produz e consome para sobreviver e, como consequência, gera uma quantidade imensa de resíduos. A decomposição dos rejeitos orgânicos em lixões e aterros, ao fim do ciclo de vida de cada produto, gera biogás, uma mistura gasosa com quase 50% de metano (um potente gás causador de efeito estufa), mais uma quantidade semelhante de dióxido de carbono e uma pequena parte de outras impurezas, como vapores d’água e de ácidos.
O biogás é emitido desde os primeiros meses do aterramento do lixo até mais de cinco décadas depois. Essas emissões se tornam mais intensas quanto maior a quantidade de restos orgânicos, umidade e temperatura ambiente. Já o dióxido de carbono (CO2) emitido por um aterro se origina do carbono retirado da atmosfera pela fotossíntese. Essa emissão não contribui para o aumento das concentrações de gases de efeito estufa (também conhecidos como GEE). No entanto, o metano – com 21 vezes o poder de aquecimento global do CO2 – representa uma emissão significativa.
Assim como os demais GEE, ele pode ser expresso em termos de massa de dióxido de carbono equivalente (CO2e).
É paradoxal, mas um lixão a céu aberto emite 60% menos do biogás formado em um aterro sanitário. A colonização por ratos, urubus, moscas, entre outros vetores nocivos, porém, potencializa seus danos ambientais. Então, converter lixões a céu aberto em aterros sanitários (já que aterros controlados não são mais que lixões melhorados), além de nos livrar de sérios problemas ambientais, oferecem medidas para a recuperação do metano gerado com maior intensidade.
Com o contínuo aumento da concentração atmosférica de GEE desde a Revolução Industrial, as mudanças climáticas globais observadas nas últimas décadas fizeram com que o Brasil – e quase todos os países do planeta – aderisse a tratados internacionais, como a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e o Protocolo de Kyoto. A partir de então, o governo brasileiro passou a quantificar as emissões de GEE nas mais importantes atividades da economia.
Segundo dados de 2010, as emissões totais de GEE no Brasil foram de pouco mais de 1,2 milhão de toneladas de CO2e. A atividade agrícola foi a principal fonte (com 35%), enquanto o acúmulo de resíduos urbanos em aterros emitiu 49 mil toneladas de CO2e (4%). Estudos que fundamentaram o inventário nacional de emissões entre os anos 1970 e a primeira década deste século 21 apontam que o volume de resíduos urbanos gerados todos os dias per capita dobrou no período. Cresceram também as quantidades coletadas e enviadas aos aterros, o que acelera as emissões de GEE em proporções superiores ao crescimento populacional. Uma alternativa para reduzir esses números é a instalação de aterros sanitários com sistemas de coleta desses gases em dutos ou sua destruição pela queima ou eliminação do gás. O biogás precisa ser purificado para se transformar em combustível eficiente. Já o gás metano pode ser aproveitado para gerar energia.
É o que acontece em cerca de 60 municípios – 25 deles no estado de São Paulo –, que têm buscado destruir, recuperar ou usar a energia do metano. Grandes aterros podem produzir eletricidade com base nele ou injetá-lo em gasodutos próximos, já que o metano tem a mesma composição química e igual potencial energético do gás natural. Pequenos aterros, estações de tratamento de efluentes ou instalações rurais, que geram quantidades menores de metano, podem produzir energia para consumo local.
É interessante notar que a configuração do material reciclável presente entre os resíduos sólidos se alterou. Na década de 1970, por exemplo, 3% do lixo era composto de plástico. Na primeira década do século 21, esse número saltou para 15%. A explicação está no aumento da produção de embalagens descartáveis, além de diversos artigos que empregam o plástico como matéria-prima. É fato que ele torna a vida cotidiana mais fácil, mas requer novas soluções para lidar com esse material.
Esse cenário, porém, pode começar a se alterar nos próximos anos com a entrada em vigor, em 2014, da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Ela direciona recursos públicos para priorizar, primeiro, a não criação desses resíduos. E, depois, busca reduzir sua produção para, em seguida, achar soluções para a reutilização ou reciclagem desses resíduos. E, só no fim do processo, pensar em seu tratamento, quando os rejeitos podem ser encaminhados a um destino adequado em um aterro sanitário, gerando menos GEE.
Coerente com a PNRS, a Política Nacional de Mudanças Climáticas também incentiva a reciclagem, definindo uma meta de índice de reaproveitamento de resíduos sólidos em 20% para 2015. Com isso, significativas quantidades de energia e recursos naturais deixarão de ser gastas na produção de bens.
Conclusão: além da atual precariedade na gestão de resíduos e na escassez de dados sobre o tema, o principal desafio a ser superado nos próximos anos é suprir a falta de pessoal técnico preparado para pôr em prática as propostas contidas na PNRS. Esses especialistas são essenciais na elaboração de planos municipais de gestão de resíduos sólidos que contenham os princípios de coleta seletiva e o dimensionamento de equipamentos para o correto tratamento e captura dos GEE.
Também será preciso afastar propostas de incineração de lixo que possam de forma enganosa ser apresentadas como as melhores alternativas para o tratamento de resíduos ou a geração de energia (confira artigo na página 62). Só assim, as emissões dos aterros podem ser reduzidas. De igual importância será a educação que a população precisa receber para produzir menores quantidades de resíduos e separar o material reciclável. Todas essas ações reduzirão também a pressão por recursos naturais, fazendo com que tenhamos um estilo de vida mais sustentável.
Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br
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